terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Panelão

Gente do céu, como está quente aqui. Parece que ligaram o aquecedor no último e esqueceram de desligar. O ar parado, sem uma brisa que seja, é terrível. Ah, um banho de cachoeira...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Férias

Ah, as férias... Depois de quase 12 horas de viagem, chegamos a Lorena. Festinha de aniversário do Tales, filho do meu irmão Jorge, bate-papo com direito a farofinha de içá, feita pelo tio Carlinho. Tia Odete já me convidou pra ir lá na casa dela também pra comer um içá que ela guardou. Nham, nham!!! Ah, a propósito, depois eu coloco fotos da farofa de içá, conforme prometi antes. E também vou postar as fotos da farofa sendo preparada.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Frases do cinema 4

Calvera: O que eu não compreendo é por que um homem como você aceitou este trabalho. Por quê?

Chris: Eu também me pergunto.

Calvera: Não, vamos, vamos, conte-me por que.

Vin: É como um colega que conheci em El Paso. Um dia, ele tirou todas as roupas e pulou em um monte de cactos. Eu fiz a ele a mesma pergunta: Por quê?

Calvera: E?

Vin: Ele disse que na hora pareceu uma boa idéia.

Conversa entre Calvera (Eli Wallach), Chris (Yul Brinner) e Vin (Steve McQueen), em Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven). Calvera fica intrigado com o motivo que levara sete competentes pistoleiros a aceitar defender uma vila de camponeses paupérrimos do México contra o bando dele.

Tá quase na hora

Daqui a quatro horas eu entro em férias. Que beleza!!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Frases do cinema 3

"Na verdade, para alguns homens nada está escrito a menos que eles escrevam."

Sherif Ali (Omar Sharif) em Lawrence da Arábia.

Pouco antes, Ali tentara demover Lawrence (Peter O'Toole) da idéia absurda de voltar para resgatar Gasim - um dos componentes da expedição que atravessava o deserto e que havia caído do camelo sem que ninguém percebesse. Segundo Ali, estava escrito que “a hora de Gasim havia chegado” e que seria blasfêmia tentar livrá-lo da morte. Lawrence resgata Gasim e retorna à expedição como herói.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dona Glória

Domingo foi aniversário da minha mãe. Dona Glória fez 67 anos e, a despeito de alguns problemas de saúde que surgiram há alguns anos – nada graves, graças a Deus –, esbanja vitalidade.

Aposentada desde julho de 1994, minha mãe faz de tudo um pouco: desenha, pinta, cozinha, dá aulas voluntárias de pintura, faz artesanato, entre outras coisas. Nas horas vagas ainda encontra tempo de passear um pouco. No ano passado, foi para a Alemanha, onde ficou por um mês. Este ano, visitou Portugal. Questionado por que não ia junto, meu pai foi taxativo: “Pra quê? Aqui tá bom!”. Então tá, né?

Funcionária do Ibama, preferiu retirar-se do trabalho alguns anos antes de garantir aposentadoria integral, para curtir “enquanto tem saúde”, como ela mesma explicou na época. Desde então, o acervo de quadros aumentou bastante – o dela, o nosso e os de nossos amigos. Confesso: fico inchado de orgulho quando dou de presente um quadro pintado pela minha mãe e ouço os elogios ao trabalho dela.

Minha mãe é um espetáculo. Batalhadora, rigorosa com nossa educação – se sou mal-educado, a culpa é exclusivamente minha – durona muitas vezes, amorosa sempre.

Mãe, um beijão! Sábado que vem estaremos aí.

Receita de final de ano

Muito amor no coração, alegria de estar reunido com as pessoas de quem a gente gosta, uma pontinha de saudade de quem já nos deixou.

Pra comer, chester, farofa de miúdos, peru, pernil de porco, espumante (não tenho dinheiro para champanhe), vinho, cerveja e muita, mas muita disposição pra festar.

Taí a receita “Pastel de Feira” pra um grande final de ano.

Aproveitem.

Frases do cinema 2

Renault: O que o trouxe a Casablanca?

Rick: Minha saúde. Eu vim para Casablanca por causa das águas.

Renault: Águas? Que águas? Nós estamos no deserto!!

Rick: Eu estava mal informado.

Diálogo entre o chefe de polícia Louis Renault (Claude Rains) e Rick Blaine (Humphrey Bogart) em Casablanca.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quer lotar o cinema? Passe filme do Mazzaropi

Lorena, em priscas eras, tinha dois cinemas – o “Nosso Cinema” e o Cine Rex. O principal – o “Nosso Cinema” – era um espetáculo: 1.150 lugares, sendo 950 na platéia e 200 no mezanino – chamado, sabe-se lá por que, de “Pullman” – cujo ingresso custava o dobro do preço.

Numa cidade com poucas opções de lazer, ir ao cinema no final de semana era quase obrigatório. Porém, nem isso garantia lotação. Para ter certeza de que o cinema ia encher e a bilheteria ia bombar, o negócio era exibir filme do Mazzaropi.

Naquela época, parecia não haver muita preocupação com a segurança. Enquanto não lotasse tudo – inclusive os corredores – não paravam de vender entradas. Jamais vi cinema algum, em lugar nenhum, tão lotado quanto o de Lorena nos filmes do Mazzaropi. Certa vez, o cinema estava tão lotado que os funcionários mandavam que subíssemos para o “Pullman” sem precisar pagar o adicional.

E sabem por que tanto sucesso? Porque os filmes retratavam a vida simples do interior, pessoas que conhecíamos e que encontrávamos diariamente.

No meu caso específico, Mazzaropi me lembrava muito meu falecido tio Antonio, irmão da minha avó por parte de pai. Tio Antonio era uma figuraça que qualquer dia destes vai merecer um post aqui.

Já que falei de Mazzaropi, aproveito para recomendar uma visita ao Museu Mazzaropi. Fica na fazenda onde ele montou a PAM Filmes, em Taubaté.

http://www.museumazzaropi.com.br/

Sítio do Pica-pau Amarelo

Todos tendemos a achar que o que nos divertia na infância é eterno e que os programas infantis de hoje “não têm graça”. Muitas vezes eu tento evitar este tipo de sentimento. Mas nem sempre é possível.

Vejam o exemplo do Sítio do Pica-pau Amarelo. A genial criação do Monteiro Lobato foi transposta para a telinha inúmeras vezes – a melhor, na minha opinião, era aquela da Zilka Salaberry como dona Benta. Porém, a tendência da Rede Globo de “cariocar” tudo põe a perder a bela iniciativa de apresentar o Sítio às atuais gerações.

O grande erro, no entanto, não está em colocar crianças que moram na roça falando com sotaque carioca. Está em colocar crianças que aparentemente sequer visitaram uma cidade do interior paulista para encarnar os personagens.

Em Taubaté, cidade onde Lobato nasceu e foi criado, a prefeitura mantém um museu histórico em homenagem ao autor. O museu foi montado na antiga chácara onde Lobato morou e que o inspirou na criação do sítio. Estão lá a jaqueira gigantesca a que ele se refere em sua obra, os pés de jabuticaba, o enorme terreiro, etc.

E estão, também, pessoas da cidade interpretando os personagens. É gente que desde pequena vive o universo do escritor, sabe o que é uma vaca mocha, sobe em árvore desde criança, enfim, que vive o interior. Estes são os verdadeiros Pedrinhos e Emílias. Minha homenagem a eles, que encantam milhares de crianças e adultos que visitam anualmente o museu. Programa obrigatório para quem passa por Taubaté.

Frases do cinema 1

A partir de hoje, começo a postar frases que considero legais em filmes. A primeira é de Norman Phiffier (Jerry Lewis) em “Errado pra cachorro” (Who’s minding the store?).

“Um homem tem que ser rei na sua casa de campo tipo rancho à beira do lago.”

Quer frase mais “Pastel de Feira” do que esta?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tiê

Com uma semana de atraso, o Pastel presta uma justa homenagem ao aniversário de uma das pessoas mais bacanas, de bom caráter, trabalhadoras e tudo o mais que se pode usar de elogio: minha amiga Neli Tiê Miyazaki, ou, simplesmente, Tiê.

Já a conhecia de vista, mas nossa amizade começou pra valer em 1987/88, quando meu amigo-irmão Fernando – já citado em diversas passagens deste blog – apaixonou-se pela Sandra, a irmã caçula da Tiê, que estudava com a gente. Então funcionária do Banco Itaú, Tiê freqüentava o Zeka’s Bar – onde o Fernando trabalhava à tarde/noite – e foi a ponte entre os pombinhos.

Como de hábito nas famílias de origem japonesa – os pais delas são nascidos no Japão, mas migraram pra cá há muitas décadas –, o sistema é bastante rígido. Pra desviar a atenção e tentar driblar a vigilância, fui muitas vezes à casa da Sandra com o Fernando, nos finais de semana, quando os amigos sempre apareciam.

Convivemos por muito neste tempo. Depois, ficamos um pouco afastados fisicamente – eu fui morar no RJ e ela, no Japão. Em 1996, ela voltou pra ficar. Nesta época eu já morava em Florianópolis e passamos a nos ver sempre que ia pra lá. Jamais esquecerei que eles viajaram a noite toda só pra estar na minha formatura, em agosto de 1997.

Pouco mais de um mês depois, fomos padrinhos do casamento do casal que ajudamos a unir. Dá pra dizer que a única mulher que esteve comigo num altar – além da Carine e da minha mãe – foi ela (sabem que eu nunca tinha pensado nisso?).

Em 1999, Tiê e outro amigo-irmão, o Ives, foram padrinhos do meu casamento, juntos, também, com o Fernando e a Sandra.

Poderia passar horas aqui escrevendo sobre os grandes momentos, os churrascos, caldo verde, caldo de feijão, as cervejas, as festas, o chopinho no balcão da sorveteria de sucesso que ela abriu em Lorena com o irmão e o cunhado. Mas vou parar antes que comece a chorar.

Beijão, minha amiga!!

Churrasco de pobre e de rico

Bem no espírito do Pastel de Feira, vai aí uma descrição precisa do bom e velho churrasco – versões laje e El Divino. Enviado ao Pastel de Feira pelo vizinho boa-praça Mauro, santista (de nascimento) e palmeirense (no futebol). Calma, ele tem qualidades: é filho de corinthiano.

Abração, Mauro.

Churrasco de pobre e de rico

O Traje Feminino


Rico
Calça capri de cor clara da Zara ou outra grife importada; Bolsas L.Vuitton, Prada. Camisetinha básica branca da Club Chocolate ou Doc Dog., óculos Chanel, Valentino, sandália rasteira da Lenny. Ela sempre chega sozinha, dirigindo o seu próprio carro.

Pobre
Minissaia curtíssima, blusinha da C&A estampada, tamanco de madeira de salto altíssimo, óculos coloridos, piercing e anel no dedo do pé. Muitas usam biquíni por baixo, na esperança de tomar um banho de piscina.

O Traje Masculino

Rico
Bermuda Hugo Boss ou Richard, camisa esporte Siberian ou Brooksfield, óculos Armani e aquela caminhonete importada maravilhosa.

Pobre
Chinelo Rider, bermuda florida ou feita de uma calça jeans cortada com a barriga aparecendo, agasalho ou camisa do time do coração e óculos de camelô na testa. Chegam de Monza ou de carona com mais oito pessoas.

A Comida

Rico
Normalmente eles não comem, quando comem é um pouquinho de cada coisa. Arroz com brócolis ou açafrão, farofa com frutas, filé de cordeiro, picanha argentina, muzzarella de búfalo. Sendo que cada coisa a seu tempo e pausadamente.

Pobre
Vinagrete, farofa com muita cebola, maionese, muita asa de frango, lingüiça com pão, costela e a tradicional bola da pá (que eles juram ser mais macia que a picanha!).

A Bebida

Rico
Os homens, Chopp, Cerveja Bohemia ou Heineken geladíssima. As mulheres, ice, tônica Schweppes Citrus ou Evian, e Coca-Cola Light ou Zero.

Pobre
Cerveja Belco ou Kaiser, geladas no tanque de lavar roupa cheio de gelo. Quem fica tonto mais rápido, bebe, intercalado, água da torneira. Muita caipirinha com Caninha da Roça, Baré Cola e Guaraná Sarandi.

O Prato

Rico
Normalmente beliscam uma picanha servida num enorme prato branco liso de porcelana, taças adequadas a cada tipo de bebida: água, chopp, refrigerante.

Pobre
Os tradicionais pratinhos de alumínio ou papelão, eles ficam o tempo todo de olho na fila esperando diminuir. As bebidas são servidas em copinhos plásticos de 200ml (compra-se a quantidade exata do número de convidados) ou servem naqueles de requeijão ou geléia para os convidados mais chegados: familiares, algum cabo da PM, Corpo de Bombeiros, Escrivão da Polícia, etc - os VIPs.

A Música

Rico
Jack Johnson, Maria Rita, música instrumental, Lounge Music e Jazz. Pode ser que contratem um grupo que toca chorinho, mas com músicos formados pela escola de Música da UFRJ.

Pobre
Aquele pagodão de pingar suor, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Revelação. Só CD's piratas (4 por 10,00), mídia azul. Não pode faltar o de Samba Enredo do ano. O importante é tirar a galera do chão, depois de umas 2 horas de churrasco, todos já estão dançando, independente das idades ou credos. Também rola uma batucada improvisada com panelas, tampas ou qualquer objeto disponível que emita um som (cantam de Almir Guineto à Alcione). A mulherada tira a sandália, porque não está acostumada, e bota a poeira pra subir com sua toalhinha branca encardida de tanto suor e com o conjuntinho de lycra ou jersey florido pra ficar mais à vontade.

O Churrasqueiro

Rico
Contratado de uma churrascaria famosa. Trabalha com um uniforme impecável e traz consigo toda equipe necessária para atender todos os convidados.

Pobre
Amigo de um conhecido que adora fazer churrasco, e cada hora um fica um pouquinho pra revezar. Normalmente é um cara barrigudo que fica suando com uma toalhinha na mão (ele usa para enxugar o suor, limpar as mãos e o que mais precisar!). Adora ficar jogando cerveja na brasa para mostrar fartura!

O Local

Rico
Área coberta com piso de granito, tem mesinhas, ombrelones e bancos da Indonésia, num lindo jardim com piscina, mas ninguém se anima dar um mergulho.

Pobre
Normalmente na laje, com sol quente na cabeça ou chuva para acalmar o fogo (então é improvisada uma lona de caminhão como cobertura, mas só para proteger a churrasqueira), cadeiras só para quem chegar mais cedo (esses cedem o lugar para as grávidas que sempre chegam de penca), os demais ficam em pé, esbarrando uns nos outros e pisando no seu pé, mas não tem problema porque a maioria tá descalça. Sem esquecer o tradicional banho de chuveiro, onde os bêbados começam com a brincadeira de querer molhar todo mundo.

E as mulheres gritando sai daí Giscleyson, vai se machucar!; vem pra cá Uóchitu já tem farofa de linguiça meu filho, vem logo, antes que seus primos venham e terminem tudo; Dayany pega teu irmão e leva lá pra drento e limpa a boca dele de Biscoito maizena, a boca chega a tá branca nos cantos; Cryslaine limpa o nariz do teu irmão que tá verde de tanto catarro; Cristyan Jeferson tem asa de galinha meu filho aproveita, Krystóferson vem comer carne meu filho, tá sangrando, Mayquol Djéquyson pára de correr meu filho e chama sua irmã para vir comer.

O Final

Rico
Em no máximo 4 horas, cada pessoa sai em seu próprio carro. Mas saem em momentos diferentes, para que o dono do churrasco possa fazer os agradecimentos a cada um com atenção.

Pobre
Dura no mínimo 8 horas e depois que todos já estão bêbados, o dono da casa diz que tem que trabalhar cedo no dia seguinte, mas o pessoal ainda quer fazer vaquinha para comprar mais uma caixa de cerveja. Quem não tem carro pede carona ou vai de humilhante (ônibus) mesmo. (isso sem falar nos que precisam curar o porre, estabacados no sofá ou no tapete, antes de pensar em ir embora!). O pessoal que tem carro, liga o som bem alto (pagode claro!) e sai buzinando, sorrindo e gritando: “Valeu maluco! Amanhã, tô aí pro enterro dos ossos!!”

domingo, 23 de novembro de 2008

De asfaltos e politicagens

A rua da casa dos meus pais, em Lorena, só recebeu calçamento em 1991. Até então, amassávamos barro em qualquer chuvinha que caísse. Era um inferno sair de casa com toda aquela lama na rua.

Quando criança, meu sonho era ver a rua asfaltada. A alternativa eram os horrorosos paralelepípedos, irregulares e que detonam qualquer bicicleta ou aumentam em muito qualquer ruído de suspensão nos carros – ainda não era comum calçar ruas com o que os catarinenses chamam de “lajota”, aquela em forma hexagonal.

Meu pai, sabiamente, dizia não querer asfalto. – Deixa a frente da casa muito mais quente, é uma porcaria para remendar, se tiver que abrir pra consertar a rede de esgotos e, além disso, ainda dificulta o escoamento da água da chuva – ele justificava.

Estou fazendo todo este preâmbulo porque havia decidido evitar falar de política aqui no Pastel. Mas é impossível ficar alheio a tudo que está acontecendo na cidade.

Tenho passado, neste tempo todo de chuvas em Florianópolis, por várias ruas alagadas. É flagrante o trabalho mal feito, a falta de capacidade de escoamento da água da chuva, a falta de planejamento e tudo o mais. E o que isto tem a ver com a rua do meu pai, em Lorena, a 900 quilômetros daqui?

É que uns anos depois de terem calçado a rua lá do pai, venceu a eleição um candidato que tinha sido prefeito na cidade vizinha e ganhado fama de ser “tocador de obras”, que tinha asfaltado a cidade toda, etc, etc, etc. Eleito em Lorena, o tal prefeito desandou a espalhar asfalto pelas ruas dos bairros, sem se preocupar com mais nada. Alguma semelhança?

O povo, imediatista, adora este asfalto na porta de casa. Tanto adora que reelegeu os dois. Lá, em 2000. Aqui, em 2008. A sorte do povo de lá é que não chove tanto em Lorena. O azar do povo daqui é que tem pelo menos mais quatro anos nas mãos desta gente.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Faça um esforço pra não fazer nada

Uma das maiores desvantagens da vida dita “moderna” é a falta de tempo para se dedicar às coisas simples e boas da vida. Sabe aquele tempinho ao lado da família, fazendo um programinha sem compromisso, sem estresse?

O negócio é fazer um esforço para aproveitar todos os momentos. Quando a gente vê, já passou. Mariana nasceu ainda ontem e já está com sete anos.

Sinto falta de ficar mais sossegado com a Carine e a Mariana. Sair de casa, passear sem hora pra voltar, tomar um sorvete, comer alguma coisa em algum lugar diferente. Fazer dos momentos de folga verdadeiras férias. Isto é simples e bom.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Excesso de honestidade ou preguiça?

Para mim, não existe história que ilustre melhor a idéia de honestidade – ou de preguiça – que um episódio de julho de 1999, em Alfenas, cidade mineira onde meu irmão Cláudio fez faculdade. Estávamos lá para a formatura dele.

Lá pelas tantas, precisamos de uma lâmpada.

– Tem uma vendinha aqui nessa rua, um pouco mais pra cima – ensinou meu irmão.

Lá fomos nós – meu outro irmão, Jorge, e eu – atrás da tal vendinha. Estava, na verdade, mais para bar do que para armazém. Um senhor gordo, sentado em uma cadeira virada, com as mãos apoiadas no encosto, dava as boas vindas. Fosse em Casablanca, o boteco seria o Blue Parrot e ele seria o Sr. Ferrari. Mas, lembrem-se, estávamos em Alfenas.

O que primeiro nos chamou a atenção foi o fato de que estava quase às escuras – isso devia ser pouco mais que seis da tarde. Apenas uma lâmpada, fraquinha, alumiava (porque no interior a luz não ilumina, ela alumia) o local.

- Boa noite! – cumprimentamos.

- Boa noite – respondeu o botequeiro.

- É... tá aberto? – perguntei, dado o silêncio sepulcral do local.

Ele virou-se bem devagar, olhou pra dentro do bar, voltou-se com a mesma “ligeireza” e respondeu:

- Tá!

- É que tá escuro e achei que tivesse fechando – expliquei, tentando justificar a pergunta.

- Eu deixo assim porque não tem ninguém e eu vou gastar luz pra quê, né? – respondeu o Sr. Ferrari das Alterosas.

- É verdade – concordei, tentando descobrir se o bar estava escuro porque não entrava ninguém ou se não entrava ninguém justamente porque estava tudo apagado. – Mas... tem lâmpada?

- Tem.

- O senhor vê duas pra nós, por favor? – pedimos.

Deve ter sido nesta hora que ele resolveu que não levantaria dali por dinheiro nenhum, ainda mais por duas míseras lâmpadas.

- Olha, ter eu até tenho. Mas se vocês forem um pouco mais pra cima aqui na rua, virando ali à esquerda tem um supermercado. Lá deve ser mais barato. Sabe como é, né? Supermercado é sempre mais barato. Veja lá se ainda tá aberto. Se tiver fechado, volta aqui que eu vendo pra vocês – ele respondeu, para espanto de dois atônitos postulantes a freguês.

- Tá bom – respondi, ainda sem entender se aquilo era excesso de honestidade ou pura preguiça. Tendo a achar que era honestidade.

Pra encurtar a história, encontramos o tal supermercado, compramos as lâmpadas – até hoje não sei se eram mesmo mais baratas ou não – e, na volta, voltamos a passar em frente ao Blue Parrot alfenense.

- Acharam? – perguntou ele.

- Sim, achamos, muito obrigado.

- Que bom! – sentenciou.

Como dizia o garçom de uma lanchonete que eu freqüentava em Florianópolis: “Eu nunca vi disso!!”

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Farofa de içá é como Dry Martini - todo mundo tem uma receita

As receitas de farofa de içá variam quase tanto quanto a de um Dry Martini (Hemingway que me perdoe). Tem quem simplifique e faça apenas fritinho, como uma farofa comum. Depois de fritos em tempero comum, acrescente a farinha e corrija o sal.

Tem quem coloque alho picadinho, para reforçar o sabor e castigar de vez os estômagos mais delicados que se aventuram pela primeira vez nesta pedreira. Outros, a exemplo do meu amigo Fernando, colocam também bacon picadinho. O que não pode faltar é farinha de mandioca – aquela mais grossa, muito comum em SP e no RS, que ajuda na “crocância” (será que existe esta palavra?) da coisa toda –, cerveja bem gelada e, é claro, um bom papo.

Taí, meus caros, o segredo da coisa. Vou a Lorena no final do ano e quero ver se faço um vídeo mostrando o preparo. Fernando já disse que tem içá congelado guardado, só esperando. Eita ferro!!

Içás - a caçada

Questionado pela Alexandra, resolvi descrever todo o esforço de guerra que envolve a captura do içá, iguaria muito apreciada no Vale do Paraíba, conforme descrevi no post anterior.

Todos os anos, ali por setembro ou outubro, o povo do Vale já começa a se assanhar. É o período em que as formigas saúvas estão se preparando para botar os ovos e formar novas colônias. Há quem diga que os formigueiros cheios de içás “estouram” em dia de trovoada. Outros, como o serralheiro Manolo – pai de uma colega de escola e que caçava, mas não comia – garantiam que a “colheita” era mais farta quando caía uma garoa fininha. Em seguida à garoa, quando começava a esquentar de novo, os içás praticamente “brotavam” da terra.

Então, meus caros, era a festa. Os mais corajosos chegavam a se enfiar no formigueiro – muitos devidamente paramentados com aquelas horrorosas botas de borracha – e arrebatavam porções fartas. Meu velho amigo Chicão é destes aí.

Outros, menos aquinhoados com coragem – ou dose de loucura, depende do ponto de vista –, ficavam à espreita do lado de fora e aproveitavam o vacilo das formigonas pra garantir uma farofinha sem muito esforço. Confesso que sempre fiz parte desta segunda turma.

Para quem nunca viu içá nem em foto, ela tem o corpo dividido em três partes – a cabecinha com o ferrão, o meio e a bundona. A bunda e o meio são aproveitados, desprezando-se a cabecinha com o ferrão, as asas e as pernas.

Depois de devidamente limpos e lavados, os içás são levados ao fogo – também dá pra congelar e guardar para aquele sobrinho que mora em Santa Catarina.

Içás

Existem pratos, quitutes e petiscos universais. É o caso, por exemplo, da batata frita, da calabresa, aipim (ou mandioca) e uma série infindável deles. Por outro lado, há outros petiscos cuja apreciação é tão localizada que é até difícil explicar para moradores de outros lugares.

Um destes é o içá – ou a içá. Para quem não conhece, içá é a fêmea da formiga saúva. Na porção paulista do Vale do Paraíba, a farofa de içá é muito apreciada. O mais interessante é que dificilmente você vai encontrar em outro lugar quem já tenha ouvido falar em içá. Toda vez que eu conto que para alguém “de fora”, a primeira reação é de incredulidade. A segunda, dependendo do “refinamento” do paladar do sujeito, é de nojo. Só experimentando para saber.

Monteiro Lobato, o escritor que melhor retratou a vida do homem simples do Vale do Paraíba, chegou a dizer que “o içá é o caviar do taubateano”. Mas, se você acha que vai encontrar o prato em restaurantes e lanchonetes, pode esquecer. Isso é feito em casa, para os amigos.

É claro que tem muita gente que não gosta – minha mãe, por exemplo, não pode nem ouvir falar. Minha tia, irmã de meu pai, é capaz de se enfiar no formigueiro para garantir uma porção generosa.

Quando viajo para Lorena, sempre tenho onde matar a saudade da farofinha de içá – com cerveja, é claro. Meu tio Carlinho, minha tia Odete e meu amigo-irmão Fernando sempre têm uma porção reservada, pronta para ser fritinha e transformada em farofa. Você, leitor ou leitora, pode desfazer esta cara de nojo. É bastante crocante e com sabor marcante. E não mata ninguém. Em outro post eu coloco uma receita bem facinha de farofa de içá.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Almoço mineiro

Desde que concebi este blog, fiquei imaginando um texto que desse a exata dimensão do que eu queria. Entre a concepção e o parto, descobri esta crônica maravilhosa do espetacular Rubem Braga. Deliciem-se.

Almoço Mineiro

Rubem Braga

Éramos dezesseis, incluindo quatro automóveis, uma charrete, três diplomatas, dois jornalistas, um capitão-tenente da Marinha, um tenente-coronel da Força Pública, um empresário do cassino, um prefeito, uma senhora loura e três morenas, dois oficiais de gabinete, uma criança de colo e outra de fita cor-de-rosa que se fazia acompanhar de uma boneca.

Falamos de vários assuntos inconfessáveis. Depois de alguns minutos de debates ficou assentado que Poços de Caldas é uma linda cidade. Também se deliberou, depois de ouvidos vários oradores, que estava um dia muito bonito. A palestra foi decaindo então, para assuntos muitos escabrosos: discutiu-se até política. Depois que uma senhora paulista e outra carioca trocaram idéias a respeito do separatismo, um cavalheiro ergueu um brinde ao Brasil. Logo se levantaram outros, que, infelizmente, não nos foi possível anotar, em vista de estarmos situados na extremidade da mesa. Pelo entusiasmo reinante supomos que foram brindados o soldado desconhecido, as tardes de outono, as flores dos vergéis, os proletários armênios e as pessoas presentes. O certo é que um preto fazia funcionar a sua harmônica, ou talvez a sua concertina, com bastante sentimento. Seu Nhonhô cantou ao violão com a pureza e a operosidade inerentes a um velho funcionário municipal.

Mas nós todos sentíamos, no fundo do coração, que nada tinha importância, nem a Força Pública , nem o violão de seu Nhonhô, nem mesmo as águas sulfurosas. Acima de tudo pairava o divino lombo de porco com tutu de feijão. O lombo era macio e tão suave que todos imaginamos que o seu primitivo dono devia ser um porco extremamente gentil, expoente da mais fina flor da espiritualidade suína. O tutu era um tutu honesto, forte, poderoso, saudável.

É inútil dizer qualquer coisa a respeito dos torresmos. Eram torresmos trigueiros como a doce amada de Salomão, alguns louros, outros mulatos. Uns estavam molinhos, quase simples gordura. Outros eram duros e enroscados, com dois ou três fios.

Havia arroz sem colorau, couve e pão. Sobre a toalha havia também copos cheios de vinho ou de água mineral, sorrisos, manchas de sol e a frescura do vento que sussurrava nas árvores. E no fim de tudo houve fotografias. É possível que nesse intervalo tenhamos esquecido uma encantadora lingüiça de porco e talvez um pouco de farofa. Que importa? O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro, com tons de ouro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura quase musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho da orelha de um anjo louro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado da couve — do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas.

Era o encanto de Minas.

São Paulo, 1934.

Abrem-se as cortinas...

...e começa o espetáculo.

Como não tenho muita criatividade para aberturas (meus amigos jornalistas dizem que não tenho lead), resolvi plagiar o saudoso Fiori Gigliotti, um dos maiores narradores esportivos (leia-se futebol) do rádio brasileiro.

Passei minha infância ouvindo as narrações do Fiori na Rádio Bandeirantes, aquela rede de rádios sediada em São Paulo e que tinha a suprema honra de ter entre suas afiliadas a gloriosa Rádio Cultura de Lorena. Naquele tempo, eram raras as transmissões de futebol pela TV nas tardes de domingo - as emissoras transmitiam somente as fases finais dos campeonatos. Nas palavras de Fiori, eu ia tecendo a jogada, para depois conferir na TV se a coisa tinha sido como eu imaginara.

Era comum ficar ao lado do meu pai, ouvindo os jogos do Corinthians com a narração vibrante e poética de Fiori Gigliotti. Saudades deles: do meu pai, que vou rever neste final de ano, e do Fiori, que só tenho como ouvir na memória e nos arquivos que encontro esparsamente pela Internet.

Grande abraço e sejam bem-vindos ao Pastel de Feira, um blog voltado àqueles que gostam das coisas simples e boas da vida.