terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

De volta, em grande estilo

Inspirado pela magnífica interpretação de Tony Ramos e Dan Stulbach em "Tempos de Paz", filme de Daniel Filho que eu recomendo, o Pastel de Feira retoma suas atividades. Leiam o monólogo do espanhol Calderón de La Barca, espetacularmente declamado por Stulbach no filme. Depois, assistam ao vídeo com o trecho do filme.

Abraços. Espero comparecer mais aqui durante este ano.

"Ai de mim, ai, pobre de mim!
Aqui estou, ó Deus, para entender que crime cometi contra Vós.
Mas, se nasci, eu já entendo o crime que cometi.
Aí está motivo suficiente para Vossa justiça, Vosso rigor, porque o crime maior do homem é ter nascido.
Para apurar meus cuidados, só queria saber que outros crimes cometi contra Vós além do crime de nascer. Não nasceram outros também?
Pois, se os outros nasceram, que privilégios tiveram que eu jamais gozei?
Nasce uma ave e, embelezada por seus ricos enfeites, não passa de flor de plumas, ramalhete alado quando veloz cortando salões aéreos, recusa piedade ao ninho que abandona em paz.
E eu, tendo mais instinto, tenho menos liberdade?
Nasce uma fera e, com a pele respingada de belas manchas, que lembram estrelas.
Logo, atrevida e feroz, a necessidade humana lhe ensina a crueldade, monstro de seu labirinto.
E eu, tendo mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce um peixe, aborto de ovas e Iodo e, feito um barco de escamas sobre as ondas, ele gira, gira por toda parte, exibindo a imensa habilidade que lhe dá um coração frio.
E eu, tendo mais escolha, tenho menos liberdade?
Nasce um riacho, serpente prateada, que dentre flores surge de repente e de repente, entre flores se esconde onde músico celebra a piedade das flores que lhe dão um campo aberto à sua fuga.
E eu, tendo mais vida, tenho menos liberdade?
Assim, assim chegando a esta paixão, um vulcão qual o Etna quisera arrancar do peito, pedaços do coração.
Que lei, justiça ou razão pôde recusar aos homens privilégio tão suave, exceção tão única que Deus deu a um cristal, a um peixe, a uma fera e a uma ave?"




sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Madrigal melancólico

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é A VIDA !!!

Manoel Bandeira

Esse poema foi um dos vários declamados pelo meu professor de Biologia do cursinho, Dècourt, em 1992. Todo final de aula ele dava um show, declamando um belo poema ou, por vezes, cantando uma canção em nossa homenagem. Aqui, em um vídeo que achei hoje, ele canta "Modinha", de Chico e Vinícius. Grande abraço, professor.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dorian Gray ao contrário

Ruy Castro

RIO DE JANEIRO – Caminhar pelas calçadas do Rio em tempo de eleição é disputar uma corrida de 400 metros com barreiras. Difícil dar um passo sem tropeçar nos cavaletes com as fotos dos candidatos.

Temos não apenas de driblá-los, como evitar que nos expulsem para o meio-fio, onde podemos ser atropelados por um carrinho de sorvete empurrado por um infeliz e equipado com um aparelho de som apregoando as virtudes dos candidatos. (Minha ideia de pesadelo é quando o carrinho está indo na mesma direção e no mesmo passo que eu, e não é possível ultrapassá-lo.)

Ao mesmo tempo, essa maratona atlética equivale também a um passeio no trem-fantasma, pelo sorriso alvar e engessado dos candidatos cujas fotos estão nas tabuletas. É o horror em versão Photoshop. São rostos altamente retocados, sem um vinco, uma olheira ou um dente cariado que tornassem mais humanos aqueles homens e mulheres a quem delegaremos nosso destino pelo futuro próximo.

Lembram-me "O Retrato de Dorian Gray", o grande romance de Oscar Wilde. No livro, o heroi continuava jovem e belo na vida real, enquanto o rosto do retrato, escondido num armário, envelhecia e ficava repulsivo, refletindo as maldades e ignomínias que Dorian cometia contra as pessoas.

No caso dos nossos políticos, será exatamente o contrário. Pelos próximos quatro anos, poderemos constatar as deformações monstruosas que a prática operará no rosto deles –os calombos, rugas, veias, cicatrizes e erupções provocados por suas traições ao eleitor, alianças repugnantes, negociatas, assaltos ao dinheiro público etc. Tudo isso, à medida que for acontecendo, ficará gravado em suas indisfarçáveis carantonhas.

Imutáveis, só as fotos. Dentro de quatro anos, as tabuletas com elas voltarão às calçadas, mostrando-os ainda mais jovens e frescos do que nas atuais eleições.

(Publicado na Folha de S. Paulo desta quarta-feira, 8 de setembro)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Parabéns, Corinthians!



“O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time"
Miguel Battaglia, primeiro presidente do Corinthians

Hoje é dia de sair por aí e comemorar o nosso dia. De vestir a camisa, mas não qualquer camisa – aquela, especial, toda branca ou alvinegra. De desfraldar as bandeiras – pequenas ou grandes – que todos temos em casa.

É dia de ver que há uma multidão nas ruas, unida por uma mesma paixão. De cumprimentar aquela pessoa que passa por você, nunca te viu, não te conhece, talvez jamais veja de novo na correria da cidade grande, mas que está para sempre ligada a você. Não te conhece, mas te reconhece pelos detalhes: a roupa, o sorriso, a fé estampada no olhar.

Hoje é aquele dia em que os outros – os homens de pouca fé – não entendem a alegria que a gente sente. A alegria de pertencer a um grupo que nasceu pequeno, pobre, pelas mãos de operários do Bom Retiro, à luz de um lampião, mas que tornou-se uma massa capaz de parar a maior cidade da América Latina.

É dia de comemorar a força de uma nação que não esmoreceu durante um longo calvário de 22 anos, oito meses e sete dias – ao contrário, só cresceu e solidificou sua fé. De pertencer a uma legião responsável, em 1976, pelo maior deslocamento humano em tempos de paz de que se ouviu falar. Um povo que vê seus heróis lutarem por democracia em plena ditadura. E que é democrático em sua essência, pois reúne trabalhadores, patrões, homens, mulheres, brancos, negros, índios, mulatos, cristãos, budistas, judeus, muçulmanos... Enfim, qualquer que seja o critério, você vai encontrar um representante entre esse povo.

Hoje eu vou me permitir um presente: vou sair pelas ruas para conversar com as pessoas, mas sem amarras, sem roteiros pré-definidos, sem pensar nas eleições que vêm por aí. Hoje vou festejar o centenário de uma instituição que já fez e faz mais pela democracia e pela alegria da nação do que muitas outras que se intitulam representantes do povo.

Hoje eu vou sair por aí e dizer, com o peito aberto e a alegria no rosto, que eu sou corinthiano. Que meu time é o melhor do mundo – não importa o que dizem os homens de pouca fé, pois eles jamais saberão o que é atravessar as centenas de quilômetros de São Paulo até o Rio de Janeiro, para vencer uma batalha épica – aliás, só nós e os uruguaios podemos dizer que fomos campeões mundiais no Maracanã. Eles não sabem o que é viajar mais de mil quilômetros até Porto Alegre e voltar sem o título, mas celebrando a façanha. Não sabem o que é encher o estádio mesmo estando na última colocação.

Porque não importa se vencemos ou não. Não importa se temos ou não este ou aquele título. Se temos um estádio oficialmente nosso ou se usamos o estádio de alguém. Ou se temos mais ou menos títulos que este ou aquele clube. Ser corinthiano nos basta, o Corinthians nos basta. Nos basta nossa história, nossa luta e nossos heróis, forjados nas arquibancadas frias do Pacaembu, molhadas pela garoa paulistana. Não, eles não sabem.

Hoje é dia de celebrar Vicente Matheus, Oswaldo Brandão e Basílio, o pé de anjo, que decretaram a segunda abolição da história do Brasil. De relembrar Gilmar, Claudio, Luizinho e Baltazar, heróis da conquista do título do IV Centenário. É dia de rememorar as jogadas de Marcelinho, os elásticos de Rivellino, os passes magistrais de Sócrates, o oportunismo de Casagrande, a elegância de Gamarra, a raça de Zé Maria e a categoria de Neto. É dia de louvar Dida, o exorcista, que em duas defesas de pênaltis fez sumir um fantasma que nos assombrou por anos.

Mas também sem esquecer a entrega de corpo e alma de Biro-Biro, o pé tantas vezes salvador de Tupãzinho, a liderança de Rincón e Vampeta e a classe inconfundível de Gilmar Fubá. Do goleiro Ronaldo, um corinthiano dentro de campo, e Viola, que tantas alegrias nos proporcionou.

É dia de rever as jogadas de Ronaldo Fenômeno, que escolheu o Corinthians para sua volta por cima no futebol, e de Tevez, o argentino que caiu nas graças da torcida graças a sua extrema capacidade de reunir, num só jogador, a habilidade que queremos e a raça que exigimos.

Enfim, meus amigos, hoje é dia do mundo conhecer ainda mais a nossa força. Porque, sabemos, todo time tem uma torcida. A nossa é a única torcida que tem um time.

Parabéns, Corinthians!!!

sábado, 28 de agosto de 2010

Manezinha


Minha manezinha Mariana, nascida de frente pra Baía Norte, numa manhã de setembro de 2001. Taliqual o vento suli, chegou e virou tudo de perna pro ar. Ela está vestida assim pra festa da família do Educandário Imaculada Conceição.

Caldo verde - a receita

O caldo verde é uma receita fácil de fazer, saborosa de comer e muito boa para os dias frios. Vamos lá, porque não é sempre que tenho fotos boas pra ilustrar minhas receitas. Abraço ao amigo Fernando, de Lorena, que me ensinou a fazer esta iguaria.

Ingredientes: (para quatro pessoas)
Duas a três lingüiças calabresas defumadas, sem a pele e cortadas em cubinhos
200 g de bacon cortado em cubinhos
1,5 kg de batata inglesa descascada e picada em cubos
400 g de couve manteiga finamente picadas (os pacotes de couve já cortadas têm, em média, 200 g)
8 unidades de pão francês cortados em fatias
Sal
Azeite de oliva
O quanto bastar de tempero completo
Alho (opcional)

Importante: a quantidade de lingüiça e bacon pode variar conforme o gosto. Se quiser, coloque paio ou outros defumados de seu agrado. Eu prefiro apenas bacon e calabresa

Modo de fazer

Coloque as batatas para cozinhar em uma panela média (25 cm de diâmetro), com água o suficiente para cobrir bem as batatas. Se quiser, coloque uma colher de sopa de sal (não ponha muito, pois os outros ingredientes já contêm sal). Reserve em outro recipiente e não jogue a água fora, pois ela vai ser usada para processar a batata.



Na mesma panela usada para cozinhar a batata, frite bem o bacon e a calabresa, mexendo de vez em quando.



Enquanto frita, processe a batata usando um mixer ou um liquidificador, transformado tudo num creme médio – nem muito grosso, nem ralo. (Eu prefiro o mixer, pois faz menos sujeira e possibilita processar tudo de uma só vez no recipiente onde a batata foi reservada).



Quando as carnes estiverem bem fritas, acrescente tempero completo a gosto. Lembre-se de que é mais fácil acrescentar mais sal depois do que tentar enfrentar um prato salgado demais. Despeje o creme de batatas na panela, mexa bem e deixe cozinhar em fogo baixo para pegar bem o gosto das carnes. Depois de ferver bem por uns 10 minutos, veja se a espessura do caldo está do seu agrado, apurando mais ou acrescentando mais um pouco de água quente conforme seu gosto. Corrija o sal e está pronto.



Na hora de servir, coloque a couve crua picada nos pratos e sirva o caldo quente por cima. O calor do caldo vai cozinhar a couve no ponto certo. Há quem goste de colocar a couve direto na panela, mas eu prefiro no prato.



Regue com um fio de azeite e sirva acompanhado de fatias de pão.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Caldo verde


Não percam, logo mais à noite, receita ilustrada de caldo verde. Por enquanto, fiquem aqui com a foto da mesa servida para três.

domingo, 22 de agosto de 2010

A tecnologia aproximando as pessoas

(Post atualizado: a besta aqui achou que Burnaby era perto de Toronto, mas é na região metropolitana de Vancouver. É quase assim uma Palhoça, não tem?)
Acabei de bater um longo papo com minha amiga Renata, mulher do grande amigo Paulo Henrique. Eles estão morando há um ano em Burnaby, subúrbio de Vancouver, no Canadá. O PH estava trabalhando e a Renata tinha acabado de chegar do Brazilian Day de lá. Ela disse que tinha feijoada, mas que era meia-boca, principalmente se comparada à que eu faço. Eu me ofereci pra fazer uma feijoada pra eles em janeiro - basta que paguem minha passagem hehehe.

Parece uma bobagem, mas pra quem nasceu numa época em que telefonar era caro pra caramba, que um interurbano só deveria ser feito depois das oito da noite porque era mais barato, etc, etc, etc, conversar por 1h40min com alguém no Canadá, sem pagar um centavo sequer - e ainda poder ver a pessoa por uma câmera de vídeo - é muito bacana.

Muito bom poder conversar e rever pessoas queridas como a Renata. Falta agora sincronizar com o PH, pra podermos conversar também, depois de um ano só por e-mail e por escrito no skype.

Grande abraço aos dois, meus queridos amigos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sacrifício de avó

Um dos assuntos abordados por Frank Capra no maravilhoso "A Felicidade não se compra" (It's a wonderful life), é como uma vida toca tantas outras, de tantas maneiras. No filme, George Bailey (James Stewart) consegue ver como seria sua cidade se ele não tivesse nascido. Fantástico e recomendável.

Todo esse nariz de cera pra abordar uma história familiar: hoje faz 68 anos que minha avó materna morreu. O nome dela era Alzira de Souza, nascida em Brusque (SC). Minha mãe tinha então apenas oito meses, o que gerou diversas reviravoltas na vida dela. Meu avô, Miguel, pernambucano, músico do Exército, pensando no bem-estar da filha, pediu aos padrinhos - José, também músico do Exército, e Beatriz - que a criassem. Isso tudo em Blumenau, 1942.

Uns quatro ou cinco anos depois, com a intenção de morar mais perto da família, José (fluminense de Cachoeiras de Macacu) transferiu-se para Lorena (SP), onde há um quartel do Exército. A história a partir deste ponto alguns já conhecem: meu pai, nascido e criado em Lorena, conheceu minha mãe, eles se casaram, etc.

O que importa hoje, além de reverenciar a avó que nunca conheci, é pensar no que teria acontecido se ela não tivesse morrido tão jovem - com apenas 26 anos. Se ela não tivesse morrido, minha mãe não seria criada pelos padrinhos, não se mudaria para Lorena - meu avô biológico morou até o fim da vida em Blumenau - e provavelmente eu não estaria aqui, hoje, escrevendo isso. Parece estranho, né? E é. Afinal, meu nascimento - e os dos meus irmãos - parecem só terem sido possíveis com a morte dela. Dizem que avós e pais não medem sacrifícios pelos filhos. No meu caso, posso garantir que sim.

Beijão, vó. Nunca nos conhecemos em vida, mas eu sei que a senhora zela por mim aí onde está.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Parabéns aos colorados

Parabéns ao Internacional de Porto Alegre pela conquista da Libertadores, na noite de ontem. Parabéns à Carine, minha mulher, única colorada da casa dela, que por anos aguentou gozações dos pais e da irmã gremistas e do irmão são-paulino.