quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Içás - a caçada

Questionado pela Alexandra, resolvi descrever todo o esforço de guerra que envolve a captura do içá, iguaria muito apreciada no Vale do Paraíba, conforme descrevi no post anterior.

Todos os anos, ali por setembro ou outubro, o povo do Vale já começa a se assanhar. É o período em que as formigas saúvas estão se preparando para botar os ovos e formar novas colônias. Há quem diga que os formigueiros cheios de içás “estouram” em dia de trovoada. Outros, como o serralheiro Manolo – pai de uma colega de escola e que caçava, mas não comia – garantiam que a “colheita” era mais farta quando caía uma garoa fininha. Em seguida à garoa, quando começava a esquentar de novo, os içás praticamente “brotavam” da terra.

Então, meus caros, era a festa. Os mais corajosos chegavam a se enfiar no formigueiro – muitos devidamente paramentados com aquelas horrorosas botas de borracha – e arrebatavam porções fartas. Meu velho amigo Chicão é destes aí.

Outros, menos aquinhoados com coragem – ou dose de loucura, depende do ponto de vista –, ficavam à espreita do lado de fora e aproveitavam o vacilo das formigonas pra garantir uma farofinha sem muito esforço. Confesso que sempre fiz parte desta segunda turma.

Para quem nunca viu içá nem em foto, ela tem o corpo dividido em três partes – a cabecinha com o ferrão, o meio e a bundona. A bunda e o meio são aproveitados, desprezando-se a cabecinha com o ferrão, as asas e as pernas.

Depois de devidamente limpos e lavados, os içás são levados ao fogo – também dá pra congelar e guardar para aquele sobrinho que mora em Santa Catarina.

2 comentários:

Alexandra disse...

Valeu, Marcelo.
A explicação foi excelente.
Mas Deus me livre de estar por perto na hora da explosão das casinhas de içás...
Bjs

Marcelo Santos disse...

Muito cuidado! Os terroristas que explodem os "cupins" nos campos vão munidos de potentíssimas enxadas!!

Abraço.

Marcelo