sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sacrifício de avó

Um dos assuntos abordados por Frank Capra no maravilhoso "A Felicidade não se compra" (It's a wonderful life), é como uma vida toca tantas outras, de tantas maneiras. No filme, George Bailey (James Stewart) consegue ver como seria sua cidade se ele não tivesse nascido. Fantástico e recomendável.

Todo esse nariz de cera pra abordar uma história familiar: hoje faz 68 anos que minha avó materna morreu. O nome dela era Alzira de Souza, nascida em Brusque (SC). Minha mãe tinha então apenas oito meses, o que gerou diversas reviravoltas na vida dela. Meu avô, Miguel, pernambucano, músico do Exército, pensando no bem-estar da filha, pediu aos padrinhos - José, também músico do Exército, e Beatriz - que a criassem. Isso tudo em Blumenau, 1942.

Uns quatro ou cinco anos depois, com a intenção de morar mais perto da família, José (fluminense de Cachoeiras de Macacu) transferiu-se para Lorena (SP), onde há um quartel do Exército. A história a partir deste ponto alguns já conhecem: meu pai, nascido e criado em Lorena, conheceu minha mãe, eles se casaram, etc.

O que importa hoje, além de reverenciar a avó que nunca conheci, é pensar no que teria acontecido se ela não tivesse morrido tão jovem - com apenas 26 anos. Se ela não tivesse morrido, minha mãe não seria criada pelos padrinhos, não se mudaria para Lorena - meu avô biológico morou até o fim da vida em Blumenau - e provavelmente eu não estaria aqui, hoje, escrevendo isso. Parece estranho, né? E é. Afinal, meu nascimento - e os dos meus irmãos - parecem só terem sido possíveis com a morte dela. Dizem que avós e pais não medem sacrifícios pelos filhos. No meu caso, posso garantir que sim.

Beijão, vó. Nunca nos conhecemos em vida, mas eu sei que a senhora zela por mim aí onde está.

2 comentários:

iranbarboza1 disse...

Vi nos seus textos anteriores o tema "içás". Eu cresci comendo farofas de içás, so que com café. O café quente apenas para arrematar as saborosas colheradas de içás. Fiz até um livro de poesias e resolvi homenagear este hábito dando o nome ao livro de "Café com Içás".

Marcelo Santos disse...

Iran, obrigado pela visita. Aquele post sobre içás foi bastante interessante, porque muita gente daqui de SC nunca tinha ouvido falar na farofa. Tenho amigos com muita vontade de provar, mas é difícil conseguir trazer pra cá. É que tem que fazer e comer na hora, senão fica ruim, não é? E parabéns pelo livro. Como se faz pra conseguir um? Minha esposa é professora de literatura e garanto que ela gostaria de conhecer seu trabalho. Grande abraço e apareça sempre.