segunda-feira, 13 de julho de 2009

O maior dilema de Camões

Soneto 48 – Luís de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Este é um dos vários sonetos dedicados por Camões à bela Dinamene, uma oriental pela qual o poeta se apaixonou e que morreu em um naufrágio na foz do rio Mécon, na Indochina. Na hora do naufrágio, apesar de apaixonado, Camões não teve dúvidas: entre ser o marido de Dinamene e o pai de Os Lusíadas, preferiu a segunda opção.

Para Dinamene, o negócio até que não foi tão ruim assim. Morreu afogada, é claro, mas foi imortalizada nos versos do poeta. Se ele tivesse preferido a moça, ela provavelmente seria hoje apenas “a mulher daquele poeta português de vasto talento, mas muito azarado, que perdeu a maior obra em um naufrágio”.

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