quarta-feira, 26 de agosto de 2009

PH

Meu amigo Paulo Henrique realiza hoje um grande sonho: foi de mala, cuia e Renata a tiracolo fazer a vida no Canadá, aquele imenso bloco de gelo onde as pessoas têm um urso polar como bicho de estimação :o)

Há anos que ele tentava a autorização para imigrar. Agora que conseguiu, espero que seja bastante feliz e que tudo dê certo por lá. Foi uma pena não ter conseguido falar com ele por estes dias. A correria dos preparativos para uma viagem que pretende ser muito mais longa que as habituais tomou todo o tempo dos dois. E eu, que por várias vezes prometi uma visita a eles no final de semana em Balneário Camboriú, acho que vou demorar um pouquinho mais para vê-los.

Boa sorte, meus amigos. Quem sabe um dia vamos dar um passeio em Vancouver.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Meu avô Waldomiro

Hoje faz 20 anos que meu avô paterno, Waldomiro, morreu, aos 84 anos. Até então, o único parente mais próximo que havia morrido tinha sido o tio Antonio, irmão da minha avó Lícia. Isso, no entanto, já fazia pouco mais de sete anos.

Não me lembro de nada de especial que tenha feito aquele dia. Tinha recém começado o cursinho pré-vestibular e meus dias passaram a ser compostos de aula pela manhã na escola, algum trabalho doméstico ou educação física à tarde e cursinho à noite.

E foi exatamente no cursinho que aconteceu comigo algo que eu tinha visto com várias outras pessoas em todos os anos da minha vida escolar. Assim que voltamos do intervalo e começou a aula de Física, uma funcionária do cursinho bateu à porta e chamou o professor Marcelo. O cara olhou pra sala e disse:

– Marcelo de Oliveira Santos! Quem é o desgraçado que está atrapalhando minha aula?

Na hora eu levantei pra ver o que era, quando a funcionária soltou as palavras que eu jamais gostaria de ouvir:

– Traz seu material!

Desabei na cadeira, olhei para meu amigo Luiz Fernando, sentado ao meu lado, e falei:

– Meu avô morreu!

Eu já sabia. Durante anos eu havia visto aquilo. No meio da aula na escola, um funcionário entrava na sala e chamava alguém. Na hora em que a pessoa ia levantando, ouvia que era pra levar junto o material. Era batata: no dia seguinte, o colega contava que algum parente havia morrido. Só que nunca havia acontecido comigo. Bom, pra tudo tem uma primeira vez.

Agora, em homenagem ao meu avô, dois exemplos do que ele mais gostava: música caipira.

Tonico e Tinoco cantando “Pingo d’água”, de João Pacífico e Raul Torres.



Aqui, Inezita Barroso canta "Saudades de Matão", de Raul Torres e Antenógenes Silva. Inezita é a apresentadora do programa que meu avô mais gostava, o "Viola, minha viola", há mais de 30 anos no ar na TV Cultura.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Calculadora humana

Das habilidades que eu tenho - e que desenvolvi com o tempo - a que mais chama a atenção é a capacidade de cálculo. Porém, nada se compara a esse alemão aí. Vale a pena assistir ao vídeo de pouco mais de 11 minutos.

Reparem que no desafio final, numa rádio australiana, o apresentador fez o que se deve fazer para dificultar um pouquinho a vida das calculadoras humanas: escolheu um número primo.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ai de ti, Florianópolis!

Em 1958, o escritor, jornalista e cronista Rubem Braga chamou a atenção do Rio de Janeiro ao publicar Ai de ti, Copacabana!. A crônica antecipava a degradação pela qual a então capital da República passaria nas décadas seguintes.

Lido com bastante cuidado, o texto permite algumas comparações com a Florianópolis atual. É claro que algumas citações ficaram bastante defasadas, mas ainda assim é surpreendente pelo tom profético. Trocadas algumas palavras e expressões, dá pra transformar numa espécie de “Ai de ti, Florianópolis!” Confesso que fiquei tentado a cometer este desatino, mas o mestre Rubem Braga – que tão bem inaugurou o Pastel de Feira com sua crônica “Almoço Mineiro” – não mereceria isso.


Ai de ti, Copacabana!

Rubem Braga

1. AI DE TI, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.

2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.

3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.

4. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.

6. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.

6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.

7. E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska.

8. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.

9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.

10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.

11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.

12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.

13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.

14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.

15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?

16. Antes de te perder eu agravarei s tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.

17. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará.

18. E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.

19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.

20. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará.

21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.

22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!

Rio, janeiro, 1958



Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 99.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

De volta

Depois de duas semanas de férias, muito frio e geada no RS (mas muita comilança também), estou de volta. Arre, égua, que foi brabo levantar às 6 da manhã de novo.